08 setembro 2006

DOUTORADO EM SEQUESTRO

Só faltava essa...


ESCOLA DE SEQUESTRADORES

Uma investigação da Polícia Civil cearense mostra a gravidade da ação do crime organizado no Estado. Segundo um dos delegados envolvidos na apuração, dentro do IPPS estaria funcionando uma escola de seqüestros. Detentos são acusados de ensinar técnicas para seqüestrar uma pessoa ou como pressionar psicologicamente os familiares das vítimas.

Aulas com base em experiências pessoais, horários seguidos com pontualidade, presos interessados na instrução, celas que se adaptam como salas. O que poderia ser apenas um curso de alfabetização para detentos, na verdade estaria servindo de fachada para perigosos cursos de métodos em seqüestros e técnicas de pressão psicológica em familiares de vítimas, ministrados dentro do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), o maior presídio do Estado. Os “instrutores” seriam presos já envolvidos em outras acusações de seqüestros e que seriam especialistas nesse tipo de crime.

Os supostos cursos vêm sendo investigados pela Polícia Civil. O POVO foi informado da situação inusitada por um delegado que está participando da apuração e pediu para não ser identificado. A idéia é chegar aos possíveis orientadores das ações das quadrilhas no Ceará monitorando detentos condenados pelo delito. O mesmo delegado ironiza e diz que “tem até diploma e cerimônia de colação de grau” pelo falso curso. Este ano, em oito meses, já foram registrados 14 casos de vítimas em cativeiros e pedidos de resgate no Ceará.

Um agente penitenciário, que pediu para não ser identificado diante do risco óbvio que correria ao circular entre os presidiários, disse que os agentes sempre escutam os presos combinarem assaltos, assassinatos de bandidos que estão em liberdade, seqüestros e até formação de novas quadrilhas. “Mas a gente leva muita coisa na brincadeira”, admite.

A matéria sobre a escola de seqüestradores no IPPS deixou de ser publicada no dia 23 de agosto no O POVO, dentro da série “Dossiê seqüestro” a pedido da família do empresário e Ricardo Rolim que estava seqüestrado. Na ocasião, a família disse que a matéria seria prejudicial à negociação para libertá-lo.

O delegado Luiz Carlos Dantas, do Departamento de Inteligência Policial (DIP), que também participa das investigações sobre seqüestros no Estado, aponta outro ‘território’ de união dos grupos criminosos. Ele diz que a aproximação das quadrilhas de Francisco Fabiano da Silva Aquino, o “Fabinho da Pavuna”, e de Alexandre de Sousa Ribeiro, o “Alex Gardenal”, foi firmada dentro do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO). Os dois são citados em inquéritos de pelo menos três casos de seqüestros ocorridos este ano. As vítimas foram José Rafael Gomes Luna, estudante, em 24 de abril (dois dias de cativeiro); José Braga Falcão Neto, estudante, ocorrido no dia 3 de maio (oito dias de cativeiro); e Régia Karla Mota Machado, filha de um empresário, em 25 de maio (20 dias de cativeiro).

Antes de unirem seus grupos, Fabinho da Pavuna e Alex Gardenal foram apontados por levar o “terror” a cidades do Interior do Ceará e do Pará, onde teriam praticado assaltos ousados, inclusive com rendição de policiais dentro de delegacias e de um quartel. Também teriam resgatado presos em meio a um comboio de viaturas, além de participarem de outros seqüestros, segundo Dantas.

“É durante a permanência deles em presídios que acontece a união de grupos criminosos, que ganham força quando os líderes saem ou fogem da prisão”, admitiu Dantas, durante entrevista ao O POVO, à época da prisão de Fabinho da Pavuna e Alex Gardenal, no início de junho, após o seqüestro de Régia Karla.

Para tentar amenizar o fortalecimento das quadrilhas de seqüestradores, a polícia tem evitado deixar na mesma cela os membros de bandos diferentes. É o que atualmente acontece nas celas da Superintendência da Polícia Civil. Os seqüestradores do empresário gaúcho Dagoberto Antônio Faedo (levado em 2 de julho, por 57 dias em cativeiro) são mantidos separados dos seqüestradores do empresário cearense Ricardo Rolim (resgatado no último dia 1, após 25 dias de cativeiro), todos presos no início deste mês, em um intervalo de dois dias. O procedimento preventivo, no entanto, é difícil de ser aplicado quando os grupos são transferidos para os presídios.

O POVO procurou por telefone o secretário estadual da Justiça, Evânio Guedes. A Coordenadoria de Comunicação do Governo do Estado informou que o secretário só se pronunciará após a publicação da matéria.

Nicolau Araújo
da Redação

* Texto extraído na íntegra do Jornal O POVO de 08.06.06

OBS:

Prezados leitores,

Informamos, que esse artigo ficará publicado na integra somente por 03 dias, sendo posteriormente publicado uma síntese deste em caráter definitivo. O fato deve-se do mesmo ocupar um grande espaço da página desprevilegiando os demais posts.

Grato pela compreensão

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